Pesquisadora do Butantan aborda aspectos da implementação de biotério de zebrafish | ICTB - Instituto de Ciência e Tecnologia em Biomodelos

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22/04/2019

Pesquisadora do Butantan aborda aspectos da implementação de biotério de zebrafish

Mônica Ferreira compartilhou sua experiência com a plataforma zebrafish. (Foto: Mônica Mourão)

Por Mônica Mourão

A coordenadora da Plataforma Zebrafish, do Instituto Butantan, Mônica Lopes Ferreira, ministrou, em 10/4 a palestra “Zebrafish: criação e experimentação”, junto aos colaboradores do Instituto de Ciência e Tecnologia em Biomodelos (ICTB/Fiocruz). Na oportunidade, a pesquisadora compartilhou sua experiência na implementação do biotério do projeto, em 2015, e no seu gerenciamento, até hoje, que envolve atividades de pesquisa científica, realização de cursos e divulgação científica relacionadas ao zebrafish (Danio rerio ou peixe paulistinha).

O ponto de partida para a instalação de um biotério utilizando como biomodelo o zebrafish, segundo ela, é avaliar espaço, equipamentos e apoio técnico disponíveis em comparação ao que se necessitará.  É preciso, ainda, ter em mente o tipo de biotério que se deseja instituir para se obter a licença adequada — os biotérios podem ser de criação (destinado à reprodução e manutenção de animais para fins de ensino ou pesquisa científica), manutenção (visando a manutenção dos biomodelos para os mesmos fins anteriores) e/ou experimentação (com objetivo de manutenção de peixes em experimentação por tempo superior a 12 horas).  A pesquisadora enumerou, ainda, a necessidade de locais destinados a criação, quarentena, acasalamento, lavagem e estoque de material, atividades de apoio e administrativas.

Já em relação ao biomodelo, Mônica destacou a necessidade de conhecê-lo a fundo, sendo capaz de, em um exame sob a lupa, detectar com precisão em que fase de vida ele está — o zebrafish tem como peculiaridade ser um animal transparente em seu estágios iniciais de vida. “Que grande pergunta eu vou fazer e responder com o zebrafish, se eu não conhecer o zebrafish?”, questiona ela. “Quanto mais você sabe sobre ele, mais você explora o seu resultado. Isso permite que você trabalhe com ele em todas as fases e essa é uma das grandes vantagens do zebrafish”, pontua.

A necessidade de cálculos precisos quanto à demanda dos animais por estágio de vida é outro item importante, que impactará não só os requisitos de infraestrutura, como no bem-estar animal. “Quantos peixes eu preciso para começar? Quantos projetos eu tenho hoje? A que demandas eu vou atender? Todo mundo vai trabalhar com peixe adulto ou todo mundo vai trabalhar com embrião? Se todo mundo vai trabalhar com embrião, de quantos embrioẽs por dia eu preciso? Quantos animais tenho que pôr para acasalar?”, exemplificou. Além das necessidades reprodutivas, a densidade do alojamento, ou seja, a quantidade de peixes por litro nos diferentes estágios de vida, influencia a qualidade de vida, a saúde e a reprodução dos animais.

Os fatores nutricionais também são pontos que requerem atenção e planejamento. O tipo de alimento (vivos ou processados), o estágio de vida do animal, a quantidade e a frequência da oferta de comida são fatores que interferem na sua digestibilidade e aceitação. Por fim, outros aspectos do ambiente, como o controle da luminosidade (ciclos de claro e escuro), da acidez e temperatura da água, além dos níveis de substâncias como amônia, nitrito e nitrato, também precisam ser avaliados e monitorados.

Ao abordar tantos detalhes, Mônica demonstrou que é preciso encarar a criação do biomodelo de forma profissional. Somente desta forma o pesquisador poderá obter experimentos cujos resultados sejam sólidos e, inclusive, estejam aptos a atender aos requisitos das grandes publicações científicas mundiais. “Às vezes, um pesquisador se encanta com o zebrafish fora do Brasil. Aí volta pra cá e pensa: é fácil de criar, fácil de manusear, é pequenininho, é barato. Excelente. Então, ele pega um aquário e bota no seu escritório. Mas não é assim. Ao pensar em um animal como modelo experimental, tem que pensar em biotério, em todos esses detalhes”, adverte.

Mônica ainda destacou a importância da divulgação científica no trabalho do pesquisador, como forma de prestação de contas à sociedade do uso dos recursos públicos, bem como fomentar nas crianças e jovens — o principal público-alvo das ações que desenvolve nesse campo — o gosto pela ciência e o respeito pelos animais. No caso da plataforma zebrafish, a pesquisadora ainda encontra oportunidades de refletir estigmas relacionados à própria figura do cientista. “Tem uma atividade que a gente faz que é pedir para as crianças, antes de conhecerem o projeto, desenharem um cientista. E aí você vê que a imagem do cientista que habita o imaginário popular é em geral um homem, mais velho e um pouco maluco; muito pela figura do Einstein. No final da nossa apresentação, a gente pede para eles desenharem de novo um cientista e aí o desenho é outro. Aparecem pessoas mais jovens, felizes, sorridentes e, inclusive, mulheres. E isso é muito importante. Estamos mostrando para todos que meninas também podem ser cientistas. Não que elas tenham que ser, mas que elas podem ser, se isso for uma vontade delas”, reflete.

Biomodelo em voga

Algumas características do zebrafish têm levado os pesquisadores a se interessarem pelo seu uso em substituição ou complementação a outros modelos animais no ensino de biociências e em experimentos científicos. Dentre elas, podemos destacar seu rápido desenvolvimento — apenas 72 horas após a fertilização o animal já tem diversos órgãos e sistemas em funcionamento, a possibilidade de trabalhar com o peixe em todos os seus estágios e vida, sua alta taxa reprodutiva, seu elevado nível de semelhança genética com os seres humanos — dos seus 26 mil genes, 70% assemelham-se aos humanos adultos —, sua facilidade de manipulação genética e em laboratório, além de seu pequeno porte, o que permite a formação de colônias numerosas ocupando pouco espaço.

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