Workshop internacional discute contribuições de primatas para a ciência | ICTB - Instituto de Ciência e Tecnologia em Biomodelos

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Centro de criação de animais de laboratório

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15/06/2018

Workshop internacional discute contribuições de primatas para a ciência

Por Gian Cornachini

O Instituto de Ciência e Tecnologia em Biomodelos (ICTB/Fiocruz) reuniu, entre os dias 23 e 25/5, cientistas estrangeiros, da Fiocruz e de outras instituições brasileiras para o I Workshop Internacional Primatas Não Humanos e Suas Contribuições Científicas. O evento, que contou com 11 palestras, duas mesas-redondas e um mini-curso, abordou a importância dos biomodelos para estudos ligados a doenças infecciosas e neurociências, aspectos biológicos de diferentes espécies, manejo e bem-estar animal. O encontro também abriu espaço para outras reflexões, como questões éticas e legais. 

O médico veterinário Julio Ruiz, professor da The University of Texas e pesquisador do National Primate Research Center, trouxe ao público questões filosóficas que permeiam o debate sobre a ética e o uso de animais em pesquisas biomédicas. “Todos nós usamos os animais de alguma maneira, seja por meio de uma aspirina, quando consumimos mel ou quando vestimos uma roupa de couro”, observou Julio. Ele destacou, ainda, que as pesquisas com animais, sobretudo as voltadas para a área da saúde, não beneficiam somente os humanos, mas os resultados se estendem também à outras espécies, como cães e gatos. “A pesquisa biomédica salva a vida dos animais”, ressaltou.

Joe Simmons, da The University of Texas, explica os motivos de se usar babuínos em pesquisas biomédicas. (Foto: Gian Cornachini)

Uma das justificativas para o uso desses animais é seu alto grau de similaridade com os humanos. Esse aspecto foi destacado na palestra do professor Joe Simmons, também da The University of Texas. Segundo o pesquisador, um dos modelos mais utilizados para pesquisas biomédicas é o babuíno, que responde bem a estudos de reprodução, doenças infeciosas, epilepsia, aterosclerose e, mais recentemente, xenotransplantes (transplantes de órgãos entre diferentes espécies). “Há um grande número de pessoas em condições muito pobres e que morrem cedo porque não têm acesso aos transplantes”, apontou Simmons. A técnica de xenotransplante apresentada por ele utiliza órgãos de porcos geneticamente modificados e implantados em babuínos. O objetivo é chegar à menor taxa de rejeição possível e garantir que o os órgãos também sejam capazes de ser transplantados em humanos — servindo, assim, como uma alternativa à falta de órgãos para transplantes.

Graças aos macacos, é possível, ainda, avançar em diversas outras descobertas que beneficiam a saúde da população. A luta contra arboviroses, a exemplo da febre amarela, deve suas conquistas a esses animais, que têm papel fundamental para o entendimento dos mecanismos da doença. “A partir de experimentos, conseguiu-se realizar estudos iniciais sobre a doença, isolar cepas do vírus e analisar as lesões hepáticas”, destacou o pesquisador especializado em doenças zoonóticas, Ricardo Lourenço, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Considerados sentinelas, os animais em vida livre também são um sinal de alerta para a chegada de infecções, pois quando contraem o vírus, adoecem e morrem, dão os indicativos de que o vírus está circulando na região. No entanto, em algumas cidades, como o Rio de Janeiro, não foi detectada a presença do vírus em macacos encontrados mortos no último ano. Ao contrário, a morte de grande parte esteve associada à execução, com sinais de fratura e envenenamento. “Não matem os animais. Eles nos ajudam a identificar onde está a doença”, ressaltou Ricardo.

O pesquisador da Fiocruz Ricardo Lourenço destaca que até mesmo macacos em vida livre colaboram com a ciência, pois, como sentinelas, alertam para a chegada de infecções. (Foto: Gian Cornachini)

Conservar as espécies também é uma preocupação dos criadouros científicos de macacos. Em palestra com o tema “Preservação do patrimônio biológico de primatas não humanos”, a pesquisadora do ICTB/Fiocruz Tatiana Kugelmeier apontou a Lei 13.123/2015 (lei da biodiversidade) como uma aliada no estudo e proteção dos seres vivos. O marco regulatório estabelece regras para acesso ao patrimônio genético brasileiro e ao conhecimento tradicional de povos e comunidades associado à essa biodiversidade. “A lei valoriza o papel das coleções ex situ [seres vivos ou amostras biológicas mantidos fora de seu habitat natural] e abre novas oportunidades de atuação dos centros de criação científicos. Além de contribuir para as pesquisas biomédicas, esses centros são potenciais geradores de conhecimento sobre aspectos biológicos das diferentes espécies, permitindo-nos entendê-las melhor, aplicar técnicas para preservação de seu patrimônio biológico e apoiar os planos de conservação de espécies ameaçadas”, destacou a pesquisadora.

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