Sob mote da saúde única, evento discute técnicas de reprodução de primatas não humanos | ICTB - Instituto de Ciência e Tecnologia em Biomodelos

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01/07/2019

Sob mote da saúde única, evento discute técnicas de reprodução de primatas não humanos

Por Mônica Mourão

“A Fiocruz é uma instituição que pensa na saúde única, e esse é um conceito que compõe o SUS. Então nada mais lógico do que a gente fazer eventos que pensem na saúde dessa forma”. A constatação foi da diretora do Instituto de Ciência e Tecnologia de Biomodelos (ICTB/Fiocruz), Carla Campos, durante a mesa de abertura da mesa-redonda “Reprodução de primatas não humanos: aplicações na pesquisa biomédica e na conservação”, organizada pelo instituto, em 6/5,  no campus da Fiocruz, em Manguinhos. O conceito, que traduz a união indissociável entre a saúde animal, humana e ambiental e é conhecido internacionalmente como one health, foi a tônica do evento. Pesquisadores de instituições do Brasil e Estados Unidos compartilharam experiências sobre técnicas de manejo reprodutivo desses animais, tanto no contexto da pesquisa biomédica como no da conservação de espécies de vida livre.


Da esquerda para direita, os colaboradores do ICTB/Fiocruz:  Márcia Andrade, chefe do Centro de Pesquisa e Experimentação Animal, Fábio Silva, chefe do Serviço de Criação de Primatas; Carla Campos, diretora; Fátima Fandinho, vice-diretora de ensino e pesquisa; Etinete Gonçalves, coordenadora de Ensino (Foto: Mônica Mourão)

A pesquisadora do ICTB Tatiana Kulgemeier iniciou as apresentações contando sobre a experiência do instituto, que abriga as espécies Macaca mulatta, Macaca fascicularis, Saimiri sciureus e Saimiri ustus visando atender à necessidade de biomodelos e amostras biológicas para pesquisas e produção de vacinas da Fiocruz. A cientista explicou que as estatísticas obtidas a partir dos registros das taxas de natalidade, abortos e mortalidade infantil em cruzamento com a demanda são a base para o manejo reprodutivo das colônias: é a partir delas que são tomadas medidas de controle ou expansão populacional. “Nós usamos duas técnicas para controle populacional: vasectomia ou a separação física (de machos e fêmeas), que é uma técnica reversível, mas que, em função das limitações de espaço, só é viável para espécies de pequeno porte”, explicou ela. Já quando é preciso aumentar o plantel, recorre-se à reprodução assistida — que envolve uma ampla gama de atividades ligadas à coleta e preservação de gametas e embriões. Tatiana destacou, ainda, que o ICTB tem procurado refinar suas práticas de manejo reprodutivo por meio do investimento em técnicas de diagnóstico e monitoramento das gestantes, do estudo da fisiologia das fêmeas e da avaliação andrológica. 

Já as biotecnologias aplicadas à reprodução do macaco Rhesus (Macaca mulatta) no Oregon National Primate Research Center (ONPCR, EUA) foram o tema abordado pela pesquisadora Fernanda Maria de Carvalho. Segundo a cientista, e indo ao encontro da ideia da saúde única, o conhecimento da biologia reprodutiva desses animais beneficia tanto a pesquisa biomédica como permite auxiliar na conservação das espécies de vida livre. No campo dos avanços da saúde, por exemplo, ela citou um estudo publicado em março deste ano na revista Science do qual participou sobre o congelamento de tecido testicular de primatas. "Em humanos, essa técnica poderia ser usada para preservar a fertilidade de meninos antes de iniciar terapias gonadotóxicas, como aquelas usadas contra o câncer, por exemplo”, explicou ela. Fernanda detalhou, ainda, os procedimentos ligados à inseminação artificial e de fertilização in vitro, além dos trabalhos de edição genética realizados no ONPCR: “Temos utilizado a técnica Crispr/Cas9, que é quando a gente deleta ou insere um gene de interesse no embrião para tentar gerar animais portadores de doenças específicas, podendo, então, estudar melhor essas doenças”. 

Os aspectos reprodutivos de animais de vida livre e seu impacto na biodiversidade foram abordados pelo professor da Universidade Paulista (Unip) e coordenador do Instituto Biopesca, Rodrigo del Rio do Valle, e pelo diretor-presidente da ONG Programa de Educação Ambiental (Prea), Rodrigo Salles de Carvalho. Valle explicou que a ocupação do meio ambiente pelo homem tem levado a uma fragmentação do habitat dos primatas neotropicais e, por isso, o número desses indivíduos está reduzido. “Assim, eles acabam acasalando com parceiros geneticamente próximos, o que reduz a variabilidade genética das espécies e interfere na biodiversidade”, concluiu ele. Como medidas para sanar o problema, Rodrigo apontou a necessidade de ampliar o conhecimento sobre esses animais e, em especial sobre seu ciclo reprodutivo. O pesquisador explicou também detalhes relacionados à colheita e criopreservação do semên desses animais. Já Carvalho debateu sobre a reprodução e genética de Callithrix ssp em vida livre e seus reflexos na saúde e biodiversidade.

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